março 11, 2007

à deriva

Este é o meu adeus. A minha discreta saída, sem levantar demasiadas suspeitas.

Vou - porque começa a ficar demasiado tarde para ir ficando - sem motivo aparente. Embora teime em querer olhar para trás, não o faço. Já passei as conturbadas rotundas, oscilei entre pesadas consciências. Suspenso, fui sendo qualquer coisa impossível de definir. Pairei por páginas em branco na dura tentativa de chegar a algum lado. Uma montanha russa de perguntas que me surgem a todo o instante. E mesmo assim escolho ir. Sem demasiada convicção e dormente de tanta pancada que levei. Assino este ponto final. É meu. Respiro-o, como a estas palavras que me fogem da boca.

Pausadamente, limpo as lágrimas - depois de as deixar tocar na língua. Tornarei o sal memória de uma dor agora guardada num baú no fundo do quarto vazio...

Continuo a despistar o amor. A cruzar caminhos que vão dar apenas a encruzilhadas de escolhas aparentes. Digo que não - porque na realidade não me permito dizer que sim.

Vou para uma caverna lá longe. Sem vista para coisa nenhuma. Vou rapar o cabelo e deixar crescer a barba. Vou livrar-me das roupas que trago e rasgar à faca o sorriso que me negam. Vou dormir e acordar e chover em nós. Vou amar a vida como se realmente o sentisse.

Vou ser tudo o que fui à chegada do adeus.

Encontro o meu caminho e – descontraído – deixo-me andar à deriva.

fevereiro 22, 2007

Adormeci mais uma vez. Provavelmente vou chegar atrasado à aula.

Felizmente já não chove.

E apetece-me sorrir. Só porque posso.

Obrigado.

fevereiro 18, 2007

The world is changing...

A Britney Spears rapou o cabelo.



E parece que Brandon Flowers, a voz dos The Killers, pôs o bigode outra vez na moda.

fevereiro 15, 2007

Mudar de Vida

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será te ti ou pensas que tens... que ser assim

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será te ti ou pensas que tens... que ser assim

Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti a latejar



E não é que isto começa a fazer sentido?

fevereiro 14, 2007

Movimento Anti-Valentim

Eu sou pelo Não.



Não à criminalização dos solteiros.
Não à humilhação.
Não ao Valentim.

O M.A.V. defende melhores condições para a vida do solteiro. Melhor e maior apoio a nível psicológico. Maior acompanhamento clínico em todo o processo de reconstrução de corações partidos.

Por isso, neste dia 14 de fevereiro, eu voto Não.

fevereiro 12, 2007

5 Viriatos

“Para Mangualde, às 19H10, por favor”

5 minutos mais outros 5 debaixo da chuva miúda que invade as linhas de comboio do Oriente. Não incomoda, nem molha. Acolhe o peito para mais uma viagem. Viagens únicas, cada uma delas inigualável, pelos apeadeiros de sentimentos onde se vai parando. A carruagem estava consideravelmente quente, fazendo o toque suado dos bancos confundir-se com o cheiro forte a perfume de homem, rissóis de camarão e pastilha elástica. Disfarça-se com os tons de ouvido.

Ora então o que temos hoje? O costume. Música de Cura.

Começa a viagem. Pelo que foi, pelo que se sentiu, pelo que se quer ser, ter, viver. Troca-se o CD (que o mp3 de vinte e 5 euros ficou perdido num computador no arquipélago onde seguramente passei mais tempo na vida), vem o JP com os seus passos em volta. Mas este comboio poucas voltas dá… ou vai para sul, ou segue norte. Voltaremos às voltas eventualmente numa volátil vontade de sentir de novo vidas que são muito pouco vãs, daqui a 5 ou 55 anos. Para norte então, onde cheira a vinho tinto, a cigarros e a chocolate belga.

Chegada. Chuvada. Desabafos necessários e o beijo na pele gelada da protecção. Em casa, a pele de pêssego do porto de abrigo, com abraços e gritinhos de alegria, tradicionalmente acompanhados por risotas e cócegas nas costas uma da outra. Segue o comboio pela noite finalmente tranquila, desperta na manhã fresca da cidade pelo aroma de dois viriatos quentes, acompanhados da maior ternura do mundo que poderia alguma vez sentir. Conforto de Alma.

Outros sentires vieram, entre a gargalhada de mimo de quem lava sempre a loiça, as palavras sempre tão certas da amiga maluca, e a companhia do Homem Mais Belo do Mundo ao final da tarde. Destino que se seguiu: merecido regabofe, partilha, chuva, choradeira e coração arrepiado… ai. umas 55 vezes.

55. anos. esta noite. parabéns, porto de abrigo.

E mais não digo, porque o senhor pica, só pica o meu bilhete.

fevereiro 10, 2007

not Wanted.

A última vez que foi visto, tinha destruído tudo por onde passava, tinha levado almas e corpos ainda jovens. Desvirgindou crianças inocentes e transformou em pedra alguns dos mais ternos corações. Se o virem por aí, peçam-lhe os meus pedaços de volta. O meu sorriso de 15 anos. Digam-lhe que estou cansado de todo este gelo dentro de mim. Que não volto a acreditar nele, que foi ele que me tornou assim..
que .
que .
que .
que tenho tenho tanto para lhe cobrar.

Ou não lhe digam nada. Deixem-no continuar na ignorância em relação ao meu paradeiro.

E por favor, não venham ter comigo de boca rasgada para dizer, em jeito de fraca desculpa para a felicidade : Encontrei o amor.

fevereiro 01, 2007


As vidas passam por nós, e tentamos guardá-las... Uma folha riscada, um talão de compras, um perfume quase palpável, aquela fotografia. Suplícios de vidas que transformamos em matéria. Acesa.

Rodopia ao sabor da maré, grunhe entre.dentes o teu vapor de sentidos. Deixa-te perder na linha do horizonte [onde me divido]. Onde o ar se fecunda quando pára em si mesmo.

- Aquela recta não existe. Ninguém a pode tocar e duvido que algum dia a vejas tão claramente como eu. Mas escolho guardá-la. Ao lado do guardanapo riscado e da concha salgada. Na gaveta do armário no meu quarto.

Esta casa é demasiado pequena para as minhas incertezas. Está carregada de memórias cinzentas encaixotadas e arquivadas no canto das paredes de cimento. Só me falta um chão e aí talvez volte a pousar os pés. Sem pressas de me afogar.

Quero contar-te as minhas buscas, por cartões e postais sem data. Por brinquedos inúteis que se batem para não sair do topo do armário junto ao tecto.

- Que posso eu guardar de ti? Sem que se perca nos anos de lembranças. Como te transformo em presente desembrulhado na estante da minha pele?

Sei agora o que não vou encontrar ali. As memórias não renascem em papéis ou em canetas de feltro secas. As memórias passam. E nunca chegamos a ter tempo para dar pela falta delas.

janeiro 26, 2007

Boys don't cry ?!

A minha panca ultimamente tem sido contrariar o título desta brilhante música dos The Cure...

janeiro 22, 2007

Culpa?

a culpa não é do sol
se o meu corpo se queimar
a culpa é da vontade
que eu tenho de te abraçar

a culpa não é da praia
se o meu corpo se ferir
a culpa é da vontade
que eu tenho de te sentir
a culpa é da vontade que vive dentro de mim
e só morre com a idade
com a idade do meu fim
a culpa é da vontade

a culpa não é do mar
se o meu olhar se perder
a culpa é da vontade
que eu tenho de te ver

a culpa não é do vento
se a minha voz se calar
a culpa é do lamento
que suporta o meu cantar
a culpa é da vontade que vive dentro de mim
e só morre com a idade
com a idade do meu fim
a culpa é da vontade

a. v.

vou viver. mas estou além. tenha pressa de chegar. onde? saudade.
escrevi para ti. onde? ali. ainda é noite, ainda é frio, e o tempo não passou. passaste tu.

janeiro 13, 2007

Inspira, expira (...) Respira

Se bem me lembro, comecei a escrever porque queria compor músicas. Em inglês, como qualquer rocker pedante que pensa que vai chegar a algum lado. Depois, escrevi porque era uma boa sensação, Libertava-me de demónios pessoais e ajudava-me a aultrapassar algumas situações mais complexas da vida de adolescente. Escrever tornou-se tão natural como respirar, até ao dia em que decidi deixar de fazer ambas as coisas. Como comprovam, ainda respiro, mas prometi nunca mais escrever enquanto não pudesse respirar também. Da mesma forma que fazia quando era criança.

Depois de um longo interregno, alguém me mostrou que não precisava de respirar para escrever. Que o abafar da almofada contra a aminha cara podia ser tão mais inspirador do que um repetitivo: inspira, expira, inspira, expira(...)

Agora, passo para o papel a transparência dos meus olhos. Sem um fim maior e sem metas a cumprir. Guardo os demónios e uso-os quando a altura certa chegar. Através dos textos descobri ser capaz de matar sem a culpa dos remorsos. Odeio-me por isso, mas já não o contesto. Resigno-me e espero apenas que o arrependimento não mate. Por agora.

Vou escrever até não respirar. Até que as palavras ganhem vida e deixem de ser meros desenhos no papel. [Aí não haverá forma de parar.] O descontrolo será demasiado devastador para me permitir ter um motivo. [Aí vou parar.] E suportar o sono dos errantes.