fevereiro 01, 2007


As vidas passam por nós, e tentamos guardá-las... Uma folha riscada, um talão de compras, um perfume quase palpável, aquela fotografia. Suplícios de vidas que transformamos em matéria. Acesa.

Rodopia ao sabor da maré, grunhe entre.dentes o teu vapor de sentidos. Deixa-te perder na linha do horizonte [onde me divido]. Onde o ar se fecunda quando pára em si mesmo.

- Aquela recta não existe. Ninguém a pode tocar e duvido que algum dia a vejas tão claramente como eu. Mas escolho guardá-la. Ao lado do guardanapo riscado e da concha salgada. Na gaveta do armário no meu quarto.

Esta casa é demasiado pequena para as minhas incertezas. Está carregada de memórias cinzentas encaixotadas e arquivadas no canto das paredes de cimento. Só me falta um chão e aí talvez volte a pousar os pés. Sem pressas de me afogar.

Quero contar-te as minhas buscas, por cartões e postais sem data. Por brinquedos inúteis que se batem para não sair do topo do armário junto ao tecto.

- Que posso eu guardar de ti? Sem que se perca nos anos de lembranças. Como te transformo em presente desembrulhado na estante da minha pele?

Sei agora o que não vou encontrar ali. As memórias não renascem em papéis ou em canetas de feltro secas. As memórias passam. E nunca chegamos a ter tempo para dar pela falta delas.

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