junho 02, 2006

Ok, tenho que partilhar

Estava a Incomparente a acabar de ingerir o combustível necessário para a combustão de energia, criatividade, paciência e dedicação ao teclado, meaning, café, quando é surpreendida pela chamada telefónica de um indivíduo. Este, o jovem L., não contactava a Incomparente fazia vários meses, talvez até um par de anos. Representa um velho conhecido e amigo, de andanças de liceu, acrescento até, de catequese. Simpático como sempre, um moço carismático a quem se reconheceu em todos os momentos força de vontade e disponibilidade para trabalhar, bem como capacidade de ser um amigo para todas as ocasiões. A chamada é atendida pela Incomparente, e depois de dois minutos de troca de informação trivial e alguma actualização, eis que atinge a conversa o ponto crítico. "Sabes, X, vou iniciar este sábado as minhas funções de Relações Públicas na discoteca Y". O silêncio estabelece-se durante constragedores segundos, a sobrancelha esquerda da Incomparente levanta-se e a curisosidade aumenta. Em rápidos raciocínios, a Incomparente desenha uma árvore estratégica de como há-de responder ao jovem, tenta definir qual será a sua reacção e possíveis cenários de resposta. A finalidade deverá ser, de acordo com a identidade da Incomparente, permitir que o jovem exerça estas funções de acordo com o que deve ser. O que dever ser ela bem sabe, já o jovem, tem uma ideia, que nem é má, nem totalmente afastada da realidade, ou, por outro lado, aproximada da pseudorealidade dos nossos conhecidos Relações Íntimas. Assim, a Incomparente responde "Ai sim? Gosto em saber.", calculando que o motivo do contacto não seria apenas para comunicar a nova função, certamente. O jovem L. passa então para a fase de legitimação do assumir das novas funções, argumentando que a discoteca Y, uma das mais frequentadas em todo um distrito do interior do nosso país, necessitava de uma reciclagem e que ele iria contribuir para isso. Vai daí, a Incomparente decide, em termos de forma, como passar a mensagem. Coloca-se então em bicos de pés, engrossa ligeiramente a voz, empina o nariz e desata a falar de como é pertinente a gerência da discoteca Y estar preocupada com a comunicação, recorrendo a termos completamente técnicos da profissão, remetendo para os conceitos de função de gestão, do modelo bidireccional e simétrico da comunicação, a necessidade de acompanhar a envolvente e de estudar os diversos públicos que pertencem ao leque de stakeholders da dita, entre outras questões. Epá, apeteceu-me. A reacção do interlocutor foi inundada de uma profunda admiração, bem como por um reconhecimento desta realidade, demonstrando que algumas destas questões, ainda que numa acepção menos técnica, já tinham vagueado pelos seus planos. Ainda bem. A Incomparente sentiu que o jovem se situou, que teve mesmo a glorificante sensação de que desempenhar a profissão de Relações Públicas é bastante mais complexo, trabalhoso e aliciante do que ele, a sua família e os seus amigos, poderiam pensar. O objectivo final da conversa era então o de convidar a Incomparente a comunicar ao jovem, sempre que quisesse, o seu nome e de demais acompanhantes, por sms, quando estivesse disposta a ir à dita discoteca, visto que ele colocaria estes nomes na sua guest list... Ai! A Incomparente responde, já não com o nariz empinado mas ainda de bicos de pés, que teria todo o gosto em fazê-lo, bem como em fornecer-lhe informação que poderia ajudá-lo a desempenhar com eficácia o seu papel. Na sua humildade (e demonstrando um claro desequilíbrio de posturas, Incomparente com a mania v.s. Senhor L. com humildade), o jovem agradece e reforça a ideia de que espera a visita da Incomparente assim que possível.

Às vezes apetece-me pôr-me em bicos de pés, às vezes apetece-me empinar o nariz, às vezes apetece-me ter muito a mania.
Mas o que conta, é a intenção.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desculpe a intromissão mas ocorreu-me que alguém lhe devia dizer que a diferença entre "ter a mania" e ser rude é muito ténue. Não menospreze os outros... E não chame "indivíduo" ou "jovem L." a um "velho amigo".

Nits disse...

Não tem que pedir desculpa, caro vistante ocasional, este espaço é público e o seu comentário é bem-vindo. Concordo consigo, fui rude, sou rude, muito rude, fria e insensível, como uma pedra... Não gosto de sentir, nem de gostar nem de abraçar. Até sofro com isso, veja bem. Não sinto saudades, não me aproximo nem me apego e o meu olhar é sempre baço. Tenho a mania e sou rude. Mas lamento, não menosprezei outros, não o faço porque acredito que não há seres superiores ou inferiores, na mesma proporção em que as minhas anteriores palavras neste comentário são hilariantes aos olhos de quem é comparente a mim. Há que compreender contextos, e este, certamente, o vistante não o conhece.